Uma só condição para se reconciliar com a leitura: não pedir nada em troca. Absolutamente nada. Não erguer nenhuma muralha fortificada de conhecimentos preliminares em torno do livro. Não fazer a menor pergunta. Não passar o menor dever. Não acrescentar uma só palavra àquelas páginas lidas. Nada de julgamento de valor, nada de explicação de vocabulário, nada de análise de texto, nenhuma indicação biográfica... Proibir-se completamente ‘rodear o assunto`. Leitura-presente.(PENNAC, 1993, p. 121)
Apresentação
O projeto consiste na formação de mediadores de leitura dentro do contexto escolar. A concepção interacional da leitura permeia este trabalho - perspectiva pela qual o texto é visto como lugar de interação, cujo sentido “não está lá”, mas é construído pelo diálogo entre autor e leitor.
Os alunos do 7º e 9º anos farão leituras de obras infantis para os alunos que cursam o Ciclo I. Trata-se na formação de um ambiente leitor no qual os principais protagonistas sejam os próprios alunos.
A priori, eles terão uma formação para conhecer algumas estratégias de mediação leitora. Semanalmente, dividir-se-ão em grupos para prática de leitura no período da tarde.
Na conclusão do projeto, os alunos receberão o título de “Multiplicadores da leitura”.
Justificativa
Vale lembrar que o gosto (como sabor, ou prazer, ou moda, ou opinião, ou faculdade de julgamento) pela leitura, não é dado pela “natureza humana”, imutável e acabado, e sua formação tem a ver com as necessidades, com o tempo e com espaço em que se movimentam pessoas e grupos sociais. Por esse prisma, entende-se que a escola cria o gosto do leitor.
Para tanto, este projeto vale-se dos aspectos sociócognitivos de Vigotski, nos quais se insere, como ponto primordial, o pressuposto de que o conhecimento se desenvolve na relação entre sujeitos. Conforme sua teoria, aprendizado não é o mesmo que desenvolvimento. Entretanto, este adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental, põe em movimento vários processos de desenvolvimento.
O prazer de ler, a descoberta e a curiosidade, em síntese, todos os pontos referentes ao universo da leitura, dependem da mediação, de um ambiente leitor. Esse ambiente leitor de provocação da leitura, de “animação da leitura” (CECCANTINI, 2009), engendra-se por alguns preceitos: o aluno tem que ver o professor como um professor-leitor e este ambiente deve ser significativo e com finalidades bem definidas, formando-se assim um aluno-leitor e também mediador, no contexto escolar e familiar.
Objetivos
- Ampliar a competência leitora e o desenvolvimento do gosto pela leitura
- Fazer o aluno se reconhecer como sujeito protagonista do seu conhecimento, desenvolvendo a auto-estima.
- Fomentar a criação de clubes de leituras e de outros ambientes sociais, visando o compartilhamento de experiências, fruição literária, diálogos e leituras de mundo
Cronograma de execução
Desenvolvimento de agosto a novembro.
Agosto:
Inscrição para o projeto:
Reunião com os pais para explicar o projeto
Formação de mediação de leitura para os alunos
Inicio das atividades
novembro:
Formatura para os alunos com o titulo “Multiplicadores da leitura”
Monitoramento e avaliação
Relatórios dos alunos e dos professores envolvidos servirão como base para a avaliação do projeto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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